9.5.20

Escrita e burocracia divina

Uma vez que o âmbito religioso foi o último a incorporar a escrita — nascida como ferramenta burocrática e comercial —, é claro que um Deus tão ligado a ela como o dos nossos monoteísmos não poderia se apresentar como outra coisa que um legislador, para quem, além do mais, é preciso registrar minuciosamente todas as perdas e ganhos que cada uma de suas criaturas vai adquirindo junto a ele, para afinal ter contabilizado o respectivo saldo, positivo ou negativo. Não é estranho que um Deus que escreve apareça desde o início ocupado com aquilo para o que a escrita foi originalmente inventada.