9.5.20

O velho Rousseau, novo Adão

Enquanto se queixa, na velhice, do ostracismo ao qual havia sido lançado pelos adversários, Rousseau pensa em formas de ocupar os dias, agora vazios de vida social. Prontamente descarta a investigação dos astros, uma vez que estão distantes e a ele só pode interessar aquilo a seu alcance. Descarta, logo em seguida, a pesquisa dos reinos mineral e animal, ambos pelo mesmo repugnante motivo: a necessidade de se aprofundar e remexer nas entranhas ora da terra, ora dos bichos, uma violência da qual não era capaz. Por exclusão, vê-se diante das plantas, que, se aos demais interessam apenas à medida de suas propriedades médicas, a ele agradam apenas pelo que são, em seus aspectos e conformações. E, assim, como quem não quer nada, o velho Rousseau acaba por se apresentar aos leitores como um novo Adão, cujo fim de vida igualmente se resume a caminhar por entre jardins, solitário, desconhecedor da violência do trabalho, enquanto apenas obversa e dá o devido nome às coisas.