4.8.12

Olimpíadas

O monopólio do futebol, esporte coletivo em que não raras vezes e pelas mais diversas razões times muito piores conseguem vitórias sobre outros bem melhores, nos privou aos brasileiros da apreciação de esportes individuais cuja competição — embora às vezes simultânea, como em algumas modalidades do atletismo e na natação — é do atleta contra seus próprios limites; esportes em que o outro, o adversário, não existe, ou antes é o atleta mesmo. O brasileiro ama o futebol e desconfia de qualquer esporte feito para a vitória certa dos melhores e a derrota inescapável dos piores, sendo absolutamente incapaz de aceitar que, no caso específico, haja o conhecimento prévio das marcas pessoais, as quais só serão batidas, na hora H, por uma espécie improvável de complô cósmico, quase uma ajuda divina típica das epopéias. A chance de vitória quando a melhor marca pessoal não é a melhor do mundo é o sujeito atingi-la torcendo pra que os favoritos tenham entrado em litígio conjugal semanas antes do torneio, ou perdido a mãe na véspera da prova, ou acordado com disenteria. No mais, é o favorito quem leva, ou deixa para o segundo favorito, a chance de zebra sendo nula: — algo com o qual não chegamos nunca a nos comover.