21.8.13

Suspeitos

São tantas as doenças contagiosas, que é pouco nos preocuparmos só com as de pele. O ideal é que fosse proibido o ingresso em ambientes fechados de quem quer que não apresentasse à porta atestado médico emitido por órgão público responsável, ficando sujeito à detenção o camarada que não fosse capaz de comprovar sua inocuidade biológica. Por que haveríamos de confiar na palavra das pessoas (nunca nada é contagioso), ou ficar reféns da aparência, tão enganosa? — tanta gente sem nenhuma pereba na cara e por dentro mais podre que um cadáver, querendo dividir com os outros o vagão do metrô... Devíamos ser todos suspeitos até que provássemos o contrário. Até imagino os agentes da polícia, vestidos tão hermeticamente quanto astronautas, abordando cidadãos acusados de terem coriza escorrendo pelo nariz: “Bom dia, senhor. Nós recebemos aqui a denúncia de que o senhor estaria fungando, ela procede? Trata-se de uma calúnia? O atestado, então, por gentileza. Como não tem, se a consulta semanal é obrigatória? Compromisso muito importante? Mais importante que a saúde da população?! O senhor está preso.”