9.5.20

Lucro e prejuízo

Um antigo príncipe chinês tinha tanta consideração pela vida, que gostava de celebrar o Ano Novo dando liberdade a todos os animais cativos dentro de seus domínios. Como forma de incentivar a benevolência dos súditos, o príncipe oferecia certa quantia por cada animal libertado. O resultado foi que a população passou a aprisioná-los em muito maior número ao longo do ano. Algo semelhante aconteceu em realidade bem mais próxima à nossa, como as campanhas sanitaristas do século XIX. Lutando pelo controle da população de ratos nos centros urbanos, as autoridades tiveram a ideia de oferecer recompensa por cada rato apresentado morto. Dessa vez o resultado foi que logo as pessoas passaram a criá-los no quintal de casa... A grande lição desses episódios — pelo menos segundo uma leitura taoísta — é como toda ação também produz necessariamente o resultado contrário ao pretendido. Até por isso faz muito sentido que ambos os casos, separados por milênios, tenham em comum justamente serem determinados pela mesma lógica do lucro, talvez a coisa desde sempre mais inseparável do prejuízo.