26.9.20

A história arquetípica da imaginação islâmica


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao tomar conhecimento da traição da mulher, um sultão decide que mandará matar ao amanhecer cada mulher com a qual tiver se casado na noite anterior. E assim o faz, até que Xerazade tem um plano. E o plano de Xerazade para manter-se viva é contar ao sultão a reencenação interminável da própria condição. A cada noite Xerazade retoma a história interrompida ao fim da noite anterior, quase invariavelmente a história de alguém que conta uma história para escapar da morte, tantas vezes envolvendo mulheres adúlteras. No fundo de todas as histórias, ressoando, a história arquetípica da imaginação islâmica: a história de José. Aquele que escapa da morte e leva a melhor sobre os que o queriam matar. Aquele que escapa do poço e chega ao trono. Nesse sentido, José seria o primeiro conto escrito das Mil e Uma Noites. Primeiro e talvez único: o conto que — como o quarto do palácio de cem quartos dentro do qual há outro palácio de cem quartos — contém todos os outros. Um conto com tanto poder sobre a imaginação islâmica, que a ele tiveram de acomodar até mesmo a história de Cristo, o qual não poderia senão ter escapado, na última hora, de morrer sobre a cruz.

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